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A uberização do trabalho transforma consideravelmente a forma de trabalhar. Com a evolução da tecnologia disponível, a mudança de expectativa dos indivíduos em relação a própria carreira e o aprendizado de tantas crises (especialmente as mais recentes de 2008 e 2020), a GIG Economy estabeleceu-se essa nova realidade de trabalho. Ela é certamente bastante diferente do formato convencional que trata de relações um a um (uma empresa x um profissional) com exclusividade e subordinação. É sobre a uberização do trabalho que vamos então falar aqui. Se preferir assistir ao invés de ler, clique aqui.
Sumário
Existem 2 componentes chave para que aconteça a uberização do trabalho:
No final do mês o profissional passa a receber pelo que de fato executou, não mais um salário fixo independente da sua produção. Aqui a remuneração deve ter relação direta com a receita gerada. Isso significa que na falta de receita, não há trabalho remunerado a ser feito e, portanto, inexiste remuneração. Isso torna o interesse pela venda e satisfação do cliente interesse de todos os envolvidos, deixando no passado casos onde ‘o comercial vende e nada tenho a ver com isso se sou de outra área, meu salário está garantido’.
Na prática o indivíduo se torna um custo variável (ao invés de fixo) ao contratante, o que é muito mais coerente com a nova realidade ágil e mais flexível.
À medida que se recebe por entrega (relacionada a uma receita), pode ser que o empregador ‘ocupe’ todas as horas produtivas do dia ou só parte do tempo disponível daquele profissional. Nesse segundo caso, seja para se ocupar e/ou completar a remuneração, o próximo passo é trabalhar para outro contratante (ou outros) no restante do seu tempo, seja desempenhando atividades correlatas ou distintas.
Com a uberização do trabalho se reduz a dependência em relação a uma única fonte de renda, amplia-se relacionamentos e fontes de aprendizado, além de poder desempenhar carreiras diferentes simultaneamente. Essa última é certamente uma grande fonte de aprendizado e desenvolvimento.
Ser demitido está entre as experiências doloridas da vida. Se a demissão era esperada, seja pelos feedbacks do gestor ou maus resultados da empresa, o profissional vai se preparando (ou ao menos deveria!). Mas quando a demissão é de supetão…
Qualquer caminho tem bônus e ônus. Tratando de uberização do trabalho há uma maior necessidade de auto gestão e protagonismo para que os benefícios sejam de fato aproveitados, sendo eles:.
– AUTONOMIA DE ESCOLHA. O profissional define o que vai querer fazer projeto a projeto. O ‘se sujeitar’ a algo é uma escolha dele ao invés de uma ‘imposição do chefe’. ‘Ah mas não tenho opção…’ Se esse é o caso, então provavelmente algum aspecto de aprendizado e feedback a seguir foi negligenciado.
– DIVERSIFICAÇÃO. Ser gig e querer ter um único contrato para ‘ficar tranquilo’ é o mesmo que voltar a dar um tiro no pé. A ideia é que o indivíduo tenha múltiplos contratantes, de preferência com atividades distintas para conhecer mais gente e se beneficiar dos próximos aspectos o máximo possível. Além disso, quando uma coisa vai mal, tem as outras para compensar. Ou seja, distribuir os ovos em diferentes cestas.
– APRENDIZADO. Quanto mais dispares são as atividades, maior é o volume e a profundidade de aprendizado novo ao qual se está exposto. Dado que a vida já requer que se aprenda sempre (lifelong learning é há tempos palavra de ordem), múltiplas carreiras simultâneas manterão o profissional em aprendizado contínuo naturalmente.
– FEEDBACK EM CICLOS CURTOS. Vamos ao Uber. A cada corrida o motorista sabe se mandou bem e o que melhorar, é instantâneo. O profissional é quem decide se vai usar aquilo para evoluir, pois a informação está automaticamente disponível. No outro extremo, dos empregos fixos, o feedback tende a ser anual. O indivíduo passa 364 dias no escuro, até que vem a avaliação dizendo onde melhorar, as vezes tarde demais. Com feedbacks em intervalos curtos você tem a chance de se enxergar e aprimorar rápido!
– OXIGENAÇÃO PRODUTIVA. Sabe quando a cabeça trava em um assunto? Aquele momento em que é preciso pensar em outra coisa pra ‘limpar a mente’? Pois bem, tendo outras atividades o profissional consegue espairecer fazendo outra coisa interessante enquanto se recarrega.
Os profissionais liberais já vivem assim há anos. O dentista ganha por procedimento executado, o médico por consulta, o advogado por causa, o professor por aula e assim por diante. Todos têm uma unidade de medida para seus trabalhos e conseguem ter múltiplos contratantes, mais de uma escola, consultório ou editora no caso dos escritores.
Para tornar a uberização do trabalho real quatro elementos são fundamentais:
– UNIDADE DE MEDIDA. O primeiro passo é identificar qual seria a unidade de medida do que se produz: um projeto, protótipo, um esquema, uma campanha, hora de consultoria, um relatório, um cardápio criado, um evento realizado. Conversar sobre isso com quem conhece a pessoa profissionalmente pode ajudar a encontrar essa resposta.
– PREÇO POR UNIDADE. Quanto cobrar por unidade? Aqui entra o diferencial do profissional. É o valor agregado, a senioridade, a competência e também o pedágio a pagar para ser experimentado. Começar pode exigir que se dê um passo pra traz enquanto o nome é construído, o portfólio desenhado, a forma de trabalho criada. À medida que se ganha estofo, repertório, domínio e o cliente retorna ou recomenda com referência, é possível então ajustar o valor unitário. Se o preço que o mercado está disposto a pagar (threshold) for ultrapassado rapidinho ele irá reagir!
– CONFLITO DE INTERESSES. Esse ponto é crítico. Ser quem contrata programas de desenvolvimento de liderança em uma empresa e o comercial em uma das universidades parceiras tem conflito direto. As organizações mais avançadas nesse assunto, já permitem e até promovem carreiras paralelas deixando claro os limites em relação a situações onde há conflito de interesses.
– MULTIPLICIDADE. Se as atividades paralelas são correlatas (o advogado que dá aulas de direito) ou totalmente desassociadas (o executivo de ecommerce e instrutor de mergulho) pouco importa. O importante é que as atividades tragam felicidade e aumentem a capacidade de agregar valor para o que o profissional acredita!
Crise ou não crise, uberizado ou convencional, o desenvolvimento é responsabilidade da própria pessoa. A era das empresas pagando cursos, bolsa de estudo, começa a ficar no passado. Nada de se lamentar. O que existe online, gratuito ou com preços bem atrativos, é monumental. Portanto nada de se esconder atrás de 6 ou 7 desculpas para justificar a estagnação intelectual.
• O QUE DESENVOLVER. O profissional deve listar tudo aquilo que lhe falta para ser mais capaz, contribuir mais, fazer melhor para o cliente (seja ele qual for). Em seguida, é hora de perguntar ao cliente o que ele gostaria que fosse feito (melhor e além) e adicionar o que é preciso aprender para entregar esses pontos à listinha. Tá ai os próximos degraus da trilha de desenvolvimento.
• COMO PRIORIZAR. Já ouviu falar no 20×80 de Pareto? Pois o ideal é priorizar os 20% da trilha de desenvolvimento que trarão 80% da evolução.
• COMO APRENDER. Outro conceito importante é do 70/20/10. Ele significa que 70% do desenvolvimento vem das atividades (o fazer do dia a dia), 20% de trocas e aprendizado (coaching, mentoring, feedback, benchmarking, roda de conversa) e 10% da sala de aula formal. Na listinha acima é preciso fazer essa distinção para garantir que se está aprendendo de verdade e não apenas na teoria ou só tendo a prática sem profundidade.
• ESTILO DE APRENDIZAGEM X ABORDAGEM ESCOLHIDA. O indivíduo aprende de forma mais visual, auditiva, via leitura e escrita ou por experiência cinestésica? Além do 70/20/10, o profissional precisa analisar a listinha de desenvolvimento para ter certeza que o método escolhido é portanto o mais adequado a sua forma de aprender.
A resposta é NÃO se o profissional:
Além disso, se o profissional ainda sonha com uma carreira linear, precisa do sobrenome corporativo forte para se sentir seguro e precisa de estrutura de apoio para conseguir caminhar, uberizar fará mais mal do que bem!
Como visto acima, nem todo profissional tem perfil para ser uberizado. Além disso, o mesmo acontece com o líder. Aquele que lidera por comando e controle, analisa desempenho por esforço ao invés de resultado, que também quer tudo do seu jeito agindo pelo ultrapassado modelo do ‘eu pensa enquanto a equipe apenas obedece’, precisa seguir cuidando de uma equipe com contrato padrão!
Para abordar esse aspecto, ouvimos a opinião do Dr Fabio Cortezzi, advogado especialista em direito empresarial. Segundo ele, existem 4 requisitos que configuram o vínculo trabalhista nos moldes da CLT:
Então como uberizar o trabalho sem ‘disfarçar’ uma relação trabalhista convencional com algo ‘alternativo’ mas contrário a nossa legislação? Pensando na contraposição de cada requisito que configura vínculo, o ajuste consiste em:
Recomendo que toda empresa que decida optar pela uberização como formato de trabalho consulte o próprio advogado a fim de garantir a não observância do vínculo.
Quer mais? Preencha o inventário Momento de Carreira e veja o que está indo bem e o que está atrapalhando seu momento profissional.
Publicado em Junho de 2020.