Para Executivos
Para Jovens
Propósito é a intenção, finalidade, o intuito pelo qual algo é feito. Enquanto a missão é o que a empresa faz, o propósito é o porquê ela faz. Assim o propósito dá significado. O que o mundo vai perder se eu ou minha empresa deixar de existir? Propósito é o encontro do talento com o que a sociedade precisa. Então, será o propósito mais um modismo ou a nova realidade?
Pois vamos responder isso trazendo um pouco de história. Com a revolução industrial o trabalhou deixou de ser artesanal, de subsistência, passado de pai pra filho, para ser compartimentalizado e em escala. Na era da automação, o que era mecânico e repetitivo foi robotizado. Assim a necessidade de sobrevivência nas grandes guerras, deu espaço no pós guerra para a busca da saciedade das necessidades básicas, de forma simplista a base da Pirâmide de Maslow. De camada em camada, chegou-se ao topo. Esse topo é higiênico, financeiro, hierárquico e social.
No topo desse mundo tão conectado surge a desconexão. Percebe-se o vazio de significado, a falta de motivo para seguir, a opacidade do olhar. Crise de ansiedade, síndrome do pânico, burnout, depressão, suicídio são indicativos de que a plenitude está atrapalhando. E então, a solução é voltar pra escassez? Certamente esse pode ser um caminho, mas de solução temporária. Por ora, sem um propósito maior, é questão de tempo para o ciclo se voltar para mais sofrimento.
Em tempo de guerra, o propósito das pessoas é sobreviver. Mas em tempos de calmaria o propósito é o que faz o ser humano se mover e ir além. No caos da Venezuela, sem dúvida ninguém está em busca do seu propósito. Decerto estão pensando no que comer hoje. Por isso aqui, há décadas sem guerras significativas, achar o próprio propósito ganhou relevância.
Acabo de ministrar a disciplina de cultura organizacional e mudança para mais uma turma de executivos. De fato uma turma boa, participativa, interessada, alto nível. Para cumprir o requisitos do MEC, o curso tem prova. Surpreendentemente, corrigindo uma a uma, me deparo com o abismo entre o que as empresas estão vivendo e a necessidade de se ter um propósito. Ao descrever a visão de futuro da empresa, todos falam em crescimento dos números, aumento do market share, retomada da rentabilidade. Por favor, sem me entender mal. Isso tudo é fundamental, sem lucratividade nada existe. Mas, honestamente, alguém levanta todos os dias de manhã só para ver uma planilha aumentar seus dígitos? Dessa forma, o resultado financeiro, básico, precisa ser a consequência de um sonho maior, de uma contribuição mais relevante pro mundo, a diferença que se traz, o legado que se deixa.
Inegavelmente, com erros e acertos, metade cheia e vazia do copo, recebemos um mundo repleto de coisas boas e muita coisa pra consertar. Desfrutar sem contribuir pode ser até divertido na juventude, durante um sabático, mas até isso tem limite. O ser humano é feliz, segundo Dr Henrique Klajner, quando ele realiza, contribui, faz a diferença por si. Se essa diferença está no ramo da saúde, educação, auto estima, estética, nutrição, bem estar, higiene, vai da preferência de cada um.
Você precisa conhecer o seu propósito. No entanto, esqueça a ideia de inventar um, Simon Sinek já comprovou que o propósito está dentro de cada um. Portanto basta encontrá-lo. Por certo, como líder de uma organização, você tem a mesma missão, encontrar a razão de existir, o porquê de tudo o que se faz, o legado da organização ao presente e ao futuro.
Em uma conversa de corredor, um executivo me procurou incomodado. Existe por exemplo propósito em uma empresa de armas? Segurança. De bebidas? Celebração. De terceirização de folha de pagamento? Garantir que cada trabalhador possa realizar seu sonho ao receber o valor pactuado no prazo combinado. De transporte? Promover encontros. Isso seria uma tabela? De forma nenhum, apenas alguns exemplos.
O próprio Simon Sinek em seu livro ‘Find your why’ dá caminhos para isso. Basicamente os exercícios propostos indicam formas de encontrar padrão na sua trajetória, destaco os padrões de significado. Vale a leitura e a realização dos exercícios com parceiros.
Se você é o fundador, essa pergunta certamente já foi respondida. Você já montou a empresa com um propósito maior em mente. Nesse sentido é o que Chris Hook e James Allen no livro The Founder’s Mentality chamam de missão insurgente. Toda empresa de sucesso começa em guerra com seu setor em nome de consumidores mal servidos.
Entretanto, se você é um sucessor, cujo contato com o o fundador é mínimo ou inexistente, pode ser que a missão insurgente tenha se perdido. O crescimento tende a, com o tempo, distanciar a empresa do seu propósito. Por isso ouvir as histórias da empresa, buscar na origem os motivos de cada ação e decisão, são primeiros passos para a descoberta do propósito. Um caso público e muito emblemático de reconexão com o propósito aconteceu com a gigante de brinquedos dinamarquesa LEGO. Sob a gestão da terceira geração, depois de um ciclo de crescimento de 2 dígitos por 15 anos, a empresa chegou perto da falência por ter perdido a conexão com sua missão insurgente.
Leia sobre A era gestão por propósito, Como quantificar o próprio resultado no trabalho e Plano de carreira: tudo o que você precisa saber.
Publicado em Abril de 2019