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Os símbolos culturais formam a primeira camada do modelo de Geert Hofstede, antropólogo holandês e referência mundial em cultura. Sendo a camada mais externa e, por isso, a mais fácil de ser identificada, tende a ser vista como a mais concreta por ter elementos de fácil visualização.
Vou detalhar aqui cada tipo de símbolos culturais para assim te ajudar a identificar os símbolos da cultura organizacional da sua empresa com profundidade.
Vá a uma empresa desconhecida e, sentado na recepção, observe primeiramente o vai e vem de quem trabalha lá. O jeito de vestir, a escolha do sapato, a presença ou a ausência de gravata, uniforme, bermuda, fantasias, chapéus, chinelos, tudo isso de fato diz muito sem palavras.
Roupas de estilo despojado sugerem flexibilidade, casualidade, descontração, liberdade e até leveza. Em contrapartida, os estilos mais sérios, clássicos e tradicionais sugerem posturas e mentalidades mais conservadoras. Times com o traje bem cortado, caro, impecável e arrojado, ‘capa de revista’, transbordam sucesso, confiança e autoestima, ou usam isso como disfarce para esconder a insegurança, ou ainda determinar poder. Por isso, cada elemento vai trazendo sinais que são confirmados ou negados a medida que se conecta os elementos das diferentes camadas.
O crachá tem o que escrito? Apenas o nome, o apelido de guerra, o cargo em letras garrafais? Tem foto? A cor de fundo é a mesma ou as categorias são diferentes? A diferença é por acesso a ‘áreas nobres’, acesso a espaços restritos que exigem treinamento de segurança prévio ou pela necessidade de dizer ‘quem manda’? Como é a cordinha de colocar no pescoço, igual pra todo mundo, com dizeres específicos, com tramas e cores de algum tipo de premiação? Tem pin indicando domínio de um conhecimento, um reconhecimento, premiação ou status diferenciado? Cada resposta aqui vai dando indícios do que é importante para a empresa, entretanto, a ‘coisa’ sozinha só ganha importância a medida que se descobre seu significado.
O elogio de um cliente no banner, o busto do fundador no pátio da empresa, a fotografia de um momento marcante, a maquete da primeira sede, o esqueleto do primeiro veículo, cada um é um ícone, sem significado externo, mas com grande relevância para quem a empresa é, valoriza ou quer ser.
A mesma coisa acontece com objetos que carregam um significado particular, especial. Andando pela empresa, o que está exposto com orgulho em cima das mesas, prateleiras, nas vitrines e totens? O que torna aquilo importante? O capacete de segurança que, numa empresa é ‘parte do corpo’, na outra foi comprado para atender à uma auditoria e agora junta pó no armário sem uso. Um mesmo objeto pode indicar traços culturais diferentes. O troféu por tempo de casa mostra que lealdade é importante. Em contrapartida a taça ganha no campeonato entre áreas sugere que a competição pode ser bem vinda.
Como as pessoas se cumprimentam? Há sorriso, abraço, beijo, aperto de mão, aceno com a cabeça, olhar pro chão? Isso é geral ou varia conforme o interlocutor? Cada detalhe tem seu significado. Assim, maior proximidade pode demonstrar camaradagem, já distanciamento, pode indicar respeito, receio ou até desconforto.
Além disso, as palavras, jargões e gírias são os mesmos de uso quotidianos ou são tão particulares, que ‘só entende quem é da casa’? As siglas são de domínio público ou cada recém-chegado precisa de um dicionário ou até de um tradutor para acompanhar o que se fala em uma reunião? Quanto mais específica é a comunicação, maior o tempo necessário para um novato se encontrar e se sentir parte. Acima de tudo, isso dá sinais do nível de abertura ao mundo externo, a facilidade de adaptação.
Existem carreiras, áreas, formação ou profissões mais valorizadas ou o tratamento distinto nada tem a ver com isso? Havendo reverência, quais são as mais importantes e porquê? O destaque do comercial pode indicar reverência ao cliente ou priorização do resultado. A maior valorização do engenheiro mostra cuidado com os processos produtivos. O médico, rei no hospital, na empresa fica restrito ao cumprimento da legislação quando atua como médico do trabalho, normalmente na salinha que sobrou.
Quais são as histórias compartilhadas com quem chega na empresa? E as lendas contadas nos encontros formais e informais? Quais são os ensinamentos por trás dos mitos e das parábolas contadas sempre que determinada situação acontece? Existem histórias sobre pessoas chave? O que é contado em eventos que legitimam o jeito de ser? Quais são as lendas transmitidas na boca a boca ao longo dos anos? Seguindo assim, cada causo tem uma lição a ser reforçada como fundamental naquela cultura.
Cadeiras e mesas sem diferenciação indicam igualdade, bem como podem haver cadeiras e mesas diferentes por simples compra em momentos distintos onde uma linha já tinha sido descontinuada. Pode haver cadeiras mais sofisticadas somente em espaços onde se recebe clientes. Comum nas empresas mais formais, a diferenciação existe conforme o nível hierárquico. Já tivemos como cliente uma empresa que, pensando no bem-estar e na ergonomia, tinha um ‘cardápio’ com 4 modelos de cadeira. Assim cada admitido sentava nas 4 e escolhia aquela onde se sentia mais confortável.
Como se organizam os espaços e as pessoas que ali trabalham? Salas fechadas apenas para quem lida com informação sigilosa indica zelo com a confidencialidade, assim como salas individuais por cargo, reforçam a valorização da hierarquia. Espaços abertos sem qualquer ícone de diferenciação, sugerem igualdade.
Os símbolos culturais também são encontrados na estrutura física da organização. Qual o critério para ter vaga de garagem? É ordem de contratação, posição hierárquica ou a vaga é só para quem está no comercial para evitar perder tempo procurando vaga ao invés de atender o cliente? Em outras empresas, estaciona mais longe quem chega primeiro como forma de facilitar para quem chega em cima da hora. No primeiro caso se destaca a relevância do cliente, enquanto o outro prima pela gentileza, colaboração e coleguismo.
Além disso, existe escada ou elevador exclusivo, banheiro privativo, copa especial? Isso tem a ver com o cargo ou outro critério?
Onde acontecem as refeições? Existe restaurante diferente ou todos comem juntos? Cada um senta onde quiser, mas no fim, gerente só come com gerente e diretor com diretor? Esse é o típico caso em que a hierarquia impera, mesmo depois da empresa unificar os refeitórios querendo romper com a diferenciação. Isso só mostra a importância de prosseguir ajustando as demais camadas, em um processo de mudança cultural. Parar nos, símbolos é fazer, apenas, a mudança cosmética, sem profundidade e com baixa reverberação.
Aprofunde-se nas demais camadas, entenda mais sobre heróis, rituais, práticas e valores. Símbolos culturais não garantem bons princípios, mas dão indícios. Sua presença isolada nem faz cócegas. É apenas uma característica. Quando o significado por trás dele é encontrado em repetição em outros elementos culturais, então podemos dizer que se trata de um traço cultural. A leitura é sutil. Os traços dos surgem nos detalhes e se consolidam à medida que se repetem em diferentes aspectos e elementos das camadas.
Assista ao nosso vídeo sobre Diagnóstico de Cultura
Pensando na sua empresa, monte uma lista com todos os clusters de símbolos detalhados aqui. Passeie pelos espaços e unidades da sua empresa identificando cada um deles. Investigue a origem de cada um dos símbolos culturais (por que e quando isso passou a ser usado, adotado, comunicado?) e entreviste as pessoas que estavam na época para entender o significa real daquilo.
Publicado em Novembro de 2018. Revisado em Abril de 2020.