Para Executivos
Para Jovens
Um dos traços mais particulares da nova geração de profissionais é a versatilidade: parece que ninguém mais faz só uma coisa, tem um só interesse. E isso, me desculpem os focados, é muito bom. Muito bom para as empresas que sabem conviver com funcionários multifacetados e ultra informados e muito bom para as pessoas, que tiram sua alegria de diversos lugares.
Para entender melhor esses processos de mudança e diversificação, falamos com a Maria Candida Baumer Azevedo, especialista em carreiras paralelas. Maria é formada em Administração de Empresas pela UFPR, mestre pela UFRJ, com extensão na RSM Erasmus University. Além disso, ela é sócia fundadora da People & Results, empresa especializada em ajudar outras empresas.
Ta bom ou quer mais?
Nessa entrevista ela nos explica como as coisas tem mudado, o lado bom e ruim disso tudo e o que devemos fazer para ser profissionais mais felizes.
Sumário
MARIA- Uma pessoa tem carreiras paralelas quando exerce mais de uma atividade profissional (remunerada ou não) ao mesmo tempo. Os conteúdos podem ser similares mas as atividades precisam ser diferentes. Se uma pessoa é publicitária (fazendo criação de campanha) e ao mesmo tempo dá aulas sobre o tema publicidade, isso é uma carreira paralela relacionada. O tema é comum, mas como criativo e como professor as atividades são diferentes. Agora, se a segunda carreira for de biólogo, são carreiras paralelas não relacionadas.
O tema é ainda muito novo, e só agora começou a ser “academicamente” pesquisado. Os primeiros dados quantitativos devem ser divulgados no ano que vem. Mas, com o que já foi pesquisado até agora, dá pra ver que não é somente uma tendência crescente pro futuro mas uma realidade em um grupo muito talentoso de profissionais. Essa forma de carreira combinada tem sido encontrada em diferentes áreas, segmentos, senioridade, formação, idade, gênero.
As empresas têm visto o tema de forma distinta. Existe o que chamamos de “Aware and against”, empresas que reconhecem essa realidade mas se dizem contrárias a ela dentro do seu domínio. Outro grupo, “Aware and Indifferent”, reconhece a existência, reconhece casos “dentro de casa” e se diz indiferente a isso – enquanto não atrapalhar nosso trabalho ok. O terceiro grupo, considerado “mais evoluído no tema”, é o “Aware and Promoter”, que reconhece no mercado e internamente e estimula sua prática formalmente. Nesses casos são empresas com programas estruturados, onde carreiras paralelas entram como ferramenta adicional de desenvolvimento.
O que é interessante é perceber que até hoje não se encontrou nenhuma empresa (na pesquisa) dizendo que não existem casos de CP no mercado.
MARIA- As razões para se ter uma carreira paralela são muitas:
– Primeiro passo para mudança de carreira (a ideia de ir se consolidando na nova carreira antes de largar a anterior)
– Aumento de ganho financeiro
– Ajudar alguém (e aí normalmente a CP dura pouco tempo)
– Ganhos instáveis (isso quando a pessoa tem uma carreira cujo ganho não é constante – mercado imobiliário, mercado de ações, private equity – e aí a carreira paralela é uma fonte de ganho constante – o foco é reduzir o risco)
– Forma de trabalho escolhida (aqui entra a satisfação de ter diferentes fontes de aprendizado, desafio e relacionamento ao mesmo tempo. Esse é um público que tem crescido e tem deixado as empresas um pouco “confusas” sobre como lidar com eles)
MARIA- A medida que a empresa reconhece que pessoas com carreiras paralelas são mais automotivadas, e que isso é fundamental principalmente em estruturas organizacionais mais enxutas (flat), o profissional começa a ser valorizado e a prática se torna bem vista. Algumas empresas já vivem isso, e esse respeito e estímulo a carreira paralela vira ferramenta de retenção e atração de talentos.
Todas as ferramentas de trabalho flexível e controle de resultados (e não de horas dentro da empresa) são coerentes com essa nova forma.
MARIA- Pois muuuuuita gente fez (e ainda faz) escolhas de carreira considerando a opinião dos pais, a imposição da sociedade ou o que saiu no “guia do estudante” como “carreiras em alta”. Aí, esse cara começa a trabalhar e se vê fazendo na maior parte do tempo coisas insatisfatórias e até penosas.
Refletir sobre o que te dá prazer e buscar a carreira que precise disso é uma atitude ainda recente. Mas a contratação de processos de orientação de carreira tem crescido.
MARIA- Achar que alguma coisa vale pra todo mundo (como dizer que ter o próprio negócio é a melhor coisa pra qualquer pessoa) é um erro grande. Assim como cada pessoa tem talento para um coisa diferente, a aptidão natural para gerir, não é a mesma necessária para empreender, também diferente do que é preciso para vender, criar, controlar, auditar e assim por diante.
Pra quem tá começando, e para quem está insatisfeito, eu investiria um bom tempo fazendo dois exercícios: listando o que gosta muito de fazer no dia a dia e o que “detesta” (perguntar para gente que te rodeia e é sincero “o que eu faço muito bem e o que eu faço meia boca” também ajuda), pesquisando as carreiras que demandam na maior parte do tempo o que você gosta de fazer e faz bem e evitando seriamente as que demandam principalmente o que você não gosta.
Por Marimessias | Julho de 2012 – PONTO ENTREVISTA |