Para Executivos
Para Jovens
Em tempos de crise, qualquer desperdício conta muito. O promovido tolerado, que performa abaixo do esperado na bonança, em tempos de crise se torna persona non grata. Quando se deparam com cortes no orçamento, as primeiras cabeças a rolar nas empresas são dos inadequados para a posição. Aqueles que até então eram “acomodados”, afinal que mal há em se dar uma chance?
Para evitar que se chegue a uma situação como essa, na qual o profissional se tornou caro para sua entrega e a legislação trabalhista proíbe a demoção, a Carreira em Y ganha força. Sua implantação faz sentido especialmente em empresas com alta demanda por especialistas seniores que precisam manter as “mentes brilhantes” sem perfil de gestão, de forma produtiva, garantindo a retenção de conhecimento no pós-crise. A Carreira em Y mostra-se como alternativa para promover aqueles com formação ou habilidade técnica específica, mas sem interesse ou perfil para seguir o eixo de gestão.
No passado apenas um percurso era possível a Carreira Linear. Nele, o profissional conta com três possibilidades de movimentação na empresa: crescimento vertical, estagnação e demissão.
A crença no mundo corporativo é que subir na carreira só acontece quando se alcança cargos de liderança. Atendemos alguns casos em que se promoveu um grande especialista e ganhou-se um péssimo líder. E isso não significa simplesmente que o indivíduo é incompetente.
Situações como essa mostram que a Carreira Linear apresenta limitações para o crescimento de pessoas com perfis mais técnicos ou generalistas. Como as pessoas diferem entre si, um percurso único de carreira é incompatível com muitos perfis. Reconhecido isso, a energia, os recursos e o tempo devem ser dirigidos para transformar uma pessoa competente em um astro de desempenho.
Formada por um sistema de promoção, em que a evolução hierárquica ocorre em dois eixos — gestão e técnico especialista, a Carreira em Y apresenta-se como um plano de desenvolvimento profissional que oferece — a partir de determinada senioridade mobilidade ascendente aos profissionais sem requerer que sejam obrigatoriamente alocados em posições de supervisão ou gerência para crescer hierarquicamente. Pensadores do mundo corporativo como Meisel, Cesare e Thornton, afirmam que organizações que oferecem rumos específicos e distintos para técnicos e gestores, com recompensas equivalentes, possuem grande vantagem no recrutamento, desenvolvimento e motivação dos experts.
Com a opção da Carreira em Y os especialistas conseguem ir além em termos de liberdade, remuneração e tomada de decisão. Ao permitir que cada um opte por sua área de expertise, a Carreira em Y elimina a pressão para se criar “posições especiais” como forma de conceder aumento salarial de forma pessoalizada e desnecessária para a estratégia do negócio. Ela faz com que os especialistas enxerguem estímulos reais para continuar se aprimorando e desenvolvendo habilidades, sem precisar sofrer em posições que demandam pouco de suas fortalezas e muito de suas fraquezas. O autoconhecimento ajuda a evitar uma movimentação malsucedida, que pode gerar diversos ônus para a empresa.
O principal diferencial de um programa como esse é a gestão pelos pontos fortes. A dedicação em utilizar o melhor de cada um e, claro, criar um programa de remuneração com equidade com os demais cargos. Para que uma empresa tenha êxito na implantação e manutenção de um modelo como esse, os especialistas devem ser tão reconhecidos quanto os generalistas, minimizando sentimentos de injustiça. Por isso que equidade é a palavra de ordem. Isso significa oportunidades equivalentes de remuneração, benefícios, status, tomada de decisão e desenvolvimento para ambos os caminhos.
Se reconhecer as diferenças entre especialistas e generalistas contribui para atração e retenção de talentos, e cria equipes vencedoras. Por que então é ainda incomum encontrar empresas com estruturas coerentes de carreira? Porque, à medida que o tema for mais difundido, discutido e conhecido; à medida que os profissionais de RH se tornarem melhor qualificados, os gestores tenderão a focar na gestão pelos pontos fortes; assim, as empresas, cujo negócio requer especialistas na mesma senioridade que generalistas, sem dúvida, passarão a tê-la.
Isso significa que nem todas as empresas devem criar esse formato. A estratégia corporativa de longo prazo é o norte para identificar o quanto é necessária a existência de experts nos níveis mais altos da estrutura. Além das vantagens para a empresa, do ponto de vista dos indivíduos, ter a opção de crescer hierarquicamente fazendo aquilo que se gosta e consequentemente onde se é destaque apresenta-se como a grande vantagem de trabalhar em organizações com uma estrutura efetiva de Carreira em Y. Trata-se de uma questão de tempo para que mais empresas optem por esse formato de programa de carreira. Certamente apenas uma questão de tempo.
Por Maria Candida & Você S A – Março/2016 – Linkedin |